sexta-feira, 1 de maio de 2015

Entrevista a Feliciano Condesso (GUS Montemor)

Jogou com Gareth Bale, Walcott e Lallana, treinou com Riquelme, Santi Cazorla e Robert Pirès. Aos 28 anos, Feliciano Condesso representa o União de Montemor, do CNS, e há muito que anda longe dos holofotes que sobre ele incidiram aquando das passagens por Southampton e Villarreal. A convite do Jovens Promessas, aceitou falar um pouco sobre o seu percurso e aquilo que não correu conforme esperado.



Começando pelo tema principal desta entrevista, o que correu mal na sua carreira? Por que motivos o seu potencial não se confirmou?

As lesões em mau timing... Desde que voltei para Portugal, para tentar começar uma carreira aqui, tive duas lesões de longa duração que impossibilitaram o meu progresso.

Por muita notoriedade que tenham hoje os jovens talentosos, a transição para o futebol profissional é tão ou mais difícil do que era há dez anos. Que conselhos daria aos que se vão tentando afirmar como seniores?

São épocas diferentes, mas talvez seja algo mais fácil hoje do que era há dez anos atrás. O conselho que daria aos jovens de hoje é que acreditem nas suas capacidades, tenham sempre confiança e trabalhem muito. Serão mais facilmente recompensados dessa forma. Muitas vezes, o querer ganha à qualidade.

Ainda bastante jovem, deu que falar com a transferência do Vitória de Setúbal para o Southampton. Tem alguma ideia de como os ingleses o descobriram? De que modo se desenrolou o processo que culminou com a assinatura do contrato?

Eu era juvenil de segundo ano e estávamos na pré-época quando tudo se sucedeu. Se a memória não me engana, estavam em Portugal para ver jovens e gostaram de mim. Abordaram a minha família e o meu clube e depois concretizou-se. Era o sonho de qualquer jovem.

A academia dos Saints é mundialmente famosa pela qualidade dos jogadores que tem lançado. O que a distingue das outras? Com que ideia ficou dos métodos de trabalho?

A academia dos Saints foi e continua a ser uma das melhores. A seriedade no trabalho e a crença na qualidade dos jovens, mesmo que esta não seja óbvia à primeira vista... Não desistem de "polir" ou extrair o máximo possível da qualidade de um jogador, com resultados evidentes.

Ao serviço do clube britânico, jogou lado a lado com atletas do calibre de Theo Walcott, Gareth Bale ou Adam Lallana. Manteve o contacto com algum deles, ou com outros atletas da equipa que chegou à final da FA Youth Cup 2004/05?

Hoje já não existe contacto. Com esses jogadores manteve-se durante algum tempo após a minha saída de Inglaterra. Tenho algum contacto com outros jogadores dessa equipa, como Tim Sparv, internacional finlandês, Leon Best ou Nathan Dyer.

Na altura, esses três jogadores já eram muito acima da média? Ao observar toda a equipa em treinos e jogos, identificava Walcott, Bale e Lallana como sendo de uma qualidade superior?

Quando cheguei, sem dúvida que Walcott era o que mais dava nas vistas, pois já era muito falado pelo país todo. Depois, com o passar do tempo, comecei a ver qualidade em Adam Lallana, que tinha uma qualidade acima da média para a sua idade e jogava perfeitamente com os dois pés. Gareth Bale começou a despontar mais para o final.

Depois da experiência no sul de Inglaterra, rumou ao Villarreal. Que memórias guarda da sua passagem pelo clube espanhol?

Guardo boas memórias. Foram três anos bons. Conseguimos ascender a equipa da 3ª até à 2ª liga, passando pela 2ªB. Era um futebol totalmente diferente, onde aprendi muito.

Durante a sua ligação ao "submarino amarelo", representou Portugal no Mundial Sub-20 de 2007. Qual foi o futebolista mais talentoso que defrontou na prova, ou aquele que mais o marcou?

Naquele mundial, se a memória não me falha, jogámos o primeiro jogo contra o México, onde estavam Carlos Vela e Giovanni dos Santos, jogadores já conhecidos na altura e de grande qualidade. No jogo em que fomos eliminados, contra o Chile, estavam Arturo Vidal e Alexis Sánchez, não conhecidos internacionalmente como hoje, mas já com qualidade.

Terminado o contrato com o Villarreal, colecionou experiências em escalões secundários portugueses e espanhóis, jogando hoje no União de Montemor. Durante estes anos, recebeu em algum momento convites para reforçar clubes da Primeira Liga nacional?

Não, nunca recebi convites diretos para equipas da Primeira Liga. Há três anos atrás, existiu algo que poderia ter sido encaminhado nesse sentido, mas depois tive uma lesão que acabou com qualquer hipótese.

Realiza atualmente alguma outra atividade para além do futebol, ou consegue viver do que aufere na modalidade? O que pensa fazer quando pendurar as botas?

Sim, consigo conciliar um trabalho com o futebol. Hoje em dia, e mais nestas divisões, é impossível viver-se do futebol. Diria que 80% dos jogadores da Primeira Liga, ao terminarem a sua vida profissional, não conseguem viver do que ganharam no futebol, devido ao que se recebe hoje em dia. Arrumando as botas, quero fazer seja o que for que me permita ter uma vida estável. Se possível, algo ligado ao futebol ou ao desporto.


A dois toques

Melhores jogadores com quem partilhou balneário: Gareth Bale, Juan Román Riquelme, Santi Cazorla e Robert Pirès
Futebolista favorito: Zinedine Zidane
Equipas que mais prazer lhe dá ver jogar: Barcelona e Bayern Munique

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