sexta-feira, 25 de julho de 2014

Entrevista a João Picanço



Jovens Promessas - Para começar, pode explicar em que consistem as suas funções no jornal Record?


João Picanço - Jornalista, atualmente na secção futebol nacional. 

Jovens Promessas - Poderão essas funções estar de alguma forma relacionadas com o futebol jovem, quer nacional, quer internacional? Se sim, de que forma?

João Picanço - Estão. Somos uma secção que se dedica a todo o futebol nacional fora os ditos três grandes. Como tal somos, primordialmente, os que tratam a informação relacionada com todos os escalões jovens (neste caso, até dos grandes, por vezes. Só não tratamos os seniores). 

Jovens Promessas - Saiu há uns meses um artigo no Record sobre a equipa de juniores do Vitória de Setúbal. Que atenção é dada ao futebol de formação? Que tipo de acompanhamento é feito por este jornal em particular?

João Picanço - O máximo possível. Tratamos de assegurar que os escalões jovens têm sempre espaço no jornal. Claro que durante a semana esse espaço é reduzido, mas ao fim-de-semana, com os jogos, há uma cobertura especial. Esse trabalho em questão deveu-se, em especial, ao projeto do Vitória nas camadas jovens, que são, não raras vezes, a base da equipa sénior. 

Jovens Promessas - Passando agora para perguntas de opinião, o que pensa do atual nível da formação no nosso país? 

João Picanço - Acho-a menosprezada pelos clubes. Os jovens jogadores formados internamente deveriam ter mais primazia nas equipas principais. O Vitória é um bom exemplo, tal como o Marítimo, o Sporting e também o V. Guimarães (se bem que este último é mais por causa da necessidade que tem, pelo parco estado financeiro que atravessa). Isto só para citar os grandes. É pena que num país como o nosso os jovens emigrem desde muito cedo por não terem lugar nos clubes. Mas não têm porque os clubes estão-se nas tintas para isso. O Benfica e o FC Porto são disso bons exemplos. Mas de forma alguma me preocupa, como preocupa a alguns, o futuro da Seleção Nacional. Na realidade acho que a geração que aí vem é bastante superior à atual. O que também, diga-se de passagem, não é propriamente um grande desafio. 

Jovens Promessas - Qual é, na sua ótica, o clube português que melhor tem trabalhado as suas camadas jovens?

João Picanço - Vitória de Setúbal. 

Jovens Promessas - Na pré-temporada que agora decorre, o trabalho de base tem dado cartas no Benfica e no FC Porto, com os aparecimentos de João Teixeira, pelos encarnados, e de Rúben Neves, ao serviço dos azuis e brancos. Que jovem 'made in' Alcochete tem maiores chances de ser lançado nos mesmos moldes por Marco Silva?

João Picanço - Essa pergunta é difícil, porque o Sporting tem bom talento na equipa B e nos escalões de formação. Mas parece-me, assim muito "a frio", que Ricardo Esgaio e Iuri Medeiros podem ter essa possibilidade em breve. Embora eu duvide que sejam jogadores para o Sporting. 

Jovens Promessas - Neste momento, está a ser disputado o Europeu de Sub-19. Até onde pode chegar Portugal? Conseguirá Marcos Lopes guiar-nos à vitória final?

João Picanço - Confesso que não conheço bem as outras equipas e a seleção de Israel era tão desorganizada e dependente de um jogador (o nº9 [Michael Ohana, MS Ashdod]), que achava que era o Messi e podia resolver sozinho, que, à data desta entrevista, me parece haver pouco para fazer uma análise nesse sentido. Temos uma equipa "engraçada", com um jogador que se destaca (Marcos Lopes) e mais um ou dois intermédios. Sinceramente não gostei assim tanto da nossa exibição, porque me pareceu uma seleção ao nível da nossa absoluta atual. Mas, lá está, ainda vi pouco e posso estar enganado. Para já, e respondendo à pergunta, isso acontecerá se as outras equipas forem bastante fracas. 

Jovens Promessas - Desde a eliminação precoce da nossa seleção no Mundial do Brasil, muito se tem falado da necessária renovação. Que jogadores poderão entrar no grupo, ao longo da qualificação para o Campeonato da Europa de 2016?

João Picanço - Por mim, revolucionava a seleção toda. Ou melhor, a F.P.F. toda. Presidente e tudo. Mas, visto que a pergunta é sobre jogadores, cá vai uma pequena lista de miúdos que me parecem, se tivermos um selecionador consciente de que atravessamos uma fase de revolução (que não temos. De todo. Temos antes um senhor ultrapassadíssimo), um virar de página no futebol que podia assumir um papel de destaque, ou ir aparecendo: Cancelo, André Gomes, Bruma, Bernardo Silva, Tomás Podstawski, Marcos Lopes, William Carvalho. 

Jovens Promessas - Também no Campeonato do Mundo, foram observadas duas equipas com vários jovens de muito valor: a belga e a inglesa. Parece-lhe que alguma delas tem potencial para vir a ganhar uma grande competição?

João Picanço - Já escrevi um texto há dois anos dizendo que a Bélgica era uma das favoritas ao Euro'2016. E continuo a achar o mesmo. Quanto a Inglaterra, tenho mais dúvidas. Mas aplaudo que a revolução esteja em marcha. 

Jovens Promessas - Tendo em conta a qualidade dos atletas espanhóis que vão despontando na Europa, acha que a 'Roja' poderá voltar a dominar de forma tão clara o futebol mundial?

João Picanço - De todo. Espanha conseguiu consolidar o seu estatuto, graças a um trabalho iniciado por Luis Aragonés, mas terá de aperfeiçoar o dito cujo às novas exigências do futebol Mundial. E não é com Del Bosque, um conservador, que vai conseguir tal coisa.

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