Recentemente, assisti a um treino de Traquinas (Sub-9) de
um clube de pequena dimensão. Um bom sintético, todo o relvado à disposição
para trabalhar e quatro treinadores prontos para ajudar os pequenos sonhadores
a evoluir. Tudo condições ideais, portanto.
O treino começa com praticamente dez minutos de corrida à
volta do meio-campo. A falta de vontade dos miúdos é notória. “Como é que
havemos de ter bons jogadores se eles não querem treinar?”. Seguem-se outros
sete ou oito minutos de aquecimento articular, com toda a equipa alinhada numa
das laterais do campo. Logo depois, dez minutos de auto-recriação, com uma bola
para cada. Castigo para quem sai da grande área? Dez flexões. Concluído o
aquecimento, finalmente o jogo. Mas não antes de oito minutos (não é engano) para
definir as equipas e onde cada uma jogará. Quase quarenta minutos de treino
decorridos e golos nem vê-los.
Até o treino terminar, dois campos de GR+3x3+GR, sempre com
as mesmas equipas. O facto de nada mudar até final é um pormenor, um mal menor.
O que é grave é a forma como esses jogos são conduzidos. “Chuta! Corre! Leva!”,
isto enquanto os guarda-redes chutam para a frente sem qualquer critério e os
restantes, completamente perdidos, atiram para onde calha.
Ao lado, entretanto, começa uma equipa de Benjamins
(Sub-11) a treinar. Aquecimento praticamente igual ao dos Traquinas, ao que se
seguiram quinze minutos de remate à baliza após passe do treinador, com uma
fila de quinze jogadores a meio-campo. Até final, GR+9x9+GR em metade de um
meio-campo, sem intervenção do treinador.
Sem conhecer a realidade de outros clubes, arrisco dizer
que situações semelhantes se verificam pela maioria dos campos, já que eu
próprio tive esta formação. Até há bem pouco tempo.
Todo o hype à
volta da formação em Portugal não passa disso mesmo. Temos treinadores
extraordinários, os melhores do Mundo. A nível sénior e na formação. E esses
treinadores estão, regra geral, nos grandes clubes (por isso é que tantos
craques têm aparecido nos últimos anos). Até aqui tudo normal. O problema é que
a esmagadora maioria dos jovens portugueses não tem o privilégio de treinar e
jogar num grande clube.
À medida que vou estudando e aprendendo sobre este tema,
mais tenho a certeza de que andei a desperdiçar horas e horas em treinos sem
sentido, durante anos a fio. E o mesmo continua a acontecer com quem é agora
criança.
O conhecimento anda por aí, à disposição de qualquer um. Só
não muda quem não quer.