segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A Verdadeira Formação


Recentemente, assisti a um treino de Traquinas (Sub-9) de um clube de pequena dimensão. Um bom sintético, todo o relvado à disposição para trabalhar e quatro treinadores prontos para ajudar os pequenos sonhadores a evoluir. Tudo condições ideais, portanto.


O treino começa com praticamente dez minutos de corrida à volta do meio-campo. A falta de vontade dos miúdos é notória. “Como é que havemos de ter bons jogadores se eles não querem treinar?”. Seguem-se outros sete ou oito minutos de aquecimento articular, com toda a equipa alinhada numa das laterais do campo. Logo depois, dez minutos de auto-recriação, com uma bola para cada. Castigo para quem sai da grande área? Dez flexões. Concluído o aquecimento, finalmente o jogo. Mas não antes de oito minutos (não é engano) para definir as equipas e onde cada uma jogará. Quase quarenta minutos de treino decorridos e golos nem vê-los.

Até o treino terminar, dois campos de GR+3x3+GR, sempre com as mesmas equipas. O facto de nada mudar até final é um pormenor, um mal menor. O que é grave é a forma como esses jogos são conduzidos. “Chuta! Corre! Leva!”, isto enquanto os guarda-redes chutam para a frente sem qualquer critério e os restantes, completamente perdidos, atiram para onde calha.

Ao lado, entretanto, começa uma equipa de Benjamins (Sub-11) a treinar. Aquecimento praticamente igual ao dos Traquinas, ao que se seguiram quinze minutos de remate à baliza após passe do treinador, com uma fila de quinze jogadores a meio-campo. Até final, GR+9x9+GR em metade de um meio-campo, sem intervenção do treinador.

Sem conhecer a realidade de outros clubes, arrisco dizer que situações semelhantes se verificam pela maioria dos campos, já que eu próprio tive esta formação. Até há bem pouco tempo.

Todo o hype à volta da formação em Portugal não passa disso mesmo. Temos treinadores extraordinários, os melhores do Mundo. A nível sénior e na formação. E esses treinadores estão, regra geral, nos grandes clubes (por isso é que tantos craques têm aparecido nos últimos anos). Até aqui tudo normal. O problema é que a esmagadora maioria dos jovens portugueses não tem o privilégio de treinar e jogar num grande clube.

À medida que vou estudando e aprendendo sobre este tema, mais tenho a certeza de que andei a desperdiçar horas e horas em treinos sem sentido, durante anos a fio. E o mesmo continua a acontecer com quem é agora criança.


O conhecimento anda por aí, à disposição de qualquer um. Só não muda quem não quer.


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