sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Entrevista a Rafael Floro (Sheffield Wednesday FC)



Jovens Promessas - Entre 2007 e 2009, ainda como iniciado, representou o Sporting CP. Em seguida, rumou à Académica, tendo mais tarde jogado no FC Porto, onde de resto terminou a sua formação. Qual é a sensação de, com apenas 20 anos de idade, ter sido jogador de três clubes com esta dimensão? Considera que a experiência adquirida com todas estas mudanças o está a ajudar no futebol profissional?


Rafael Floro - Desde pequeno, o meu sonho era jogar no Sporting, por ouvir que saíram grandes jogadores de lá... E tive a oportunidade de poder jogar com a camisola do Sporting, onde aprendi a realidade do futebol. Jogar ao lado de excelentes jogadores, jogadores de grande qualidade, fez com que eu evoluísse muito como jogador. 
Depois o Sporting disse que queria reduzir o plantel e fui para a Académica, onde estive apenas três meses, infelizmente. Queria poder ter representado o clube por muito mais tempo, porque tive grandes companheiros e é uma cidade muito bonita, onde poderia vir ser feliz... Mas questões financeiras, e saudades da família também, fizeram com que voltasse para o Algarve. 
Depois, fiz meia época no Louletano e a seguir fui para o Internacional de Almancil, como juvenil mas a jogar pelos juniores. E aí dei o meu grande salto para o grande FC Porto, pelo qual tenho um enorme carinho. 
Comecei a representar a seleção e voltei a estar perto de grandes craques, desta vez treinando nos seniores do Porto. Então, foram dois anos em que aprendi muito, mas muito mesmo. Orgulho-me de dizer que joguei por estes três clubes da Primeira Divisão. Até porque irá estar sempre no meu currículo.

JP - Foi em diferentes fases do seu processo de crescimento, é certo, mas pode gabar-se de já ter vivido o dia-a-dia do Olival e da Academia de Alcochete. Na sua opinião, em qual dos dois centros de treinos se trabalha melhor? Quais as principais diferenças que notou entre os dois?

RF - Na minha opinião, a Academia do Sporting é mais completa. Treinam tudo a nivel físico. Fazem com que haja melhores jogadores a nível individual. No Olival trabalha-se mais o psicológico, a vontade de vencer... [Fazem-nos] acreditar que somos os melhores e pensar mais no colectivo, neste caso o FC Porto. Também estive em idades diferentes... Mas tanto o Sporting como o FC Porto são clubes enormes e de excelente qualidade a todos os níveis.

JP - No Verão de 2013, assinou pelo Sheffield Wednesday, clube que atualmente representa, e que disputa o Championship inglês (equivalente à Liga de Honra). Como surgiu esta oportunidade? Sentiu, desde então, alguma tristeza por ter abandonado o futebol português numa fase tão precoce da sua carreira?

RF - Não, claro que não, porque estou aqui mas amanhã posso estar em Portugal. É uma nova fase na minha vida e algo com que sempre sonhei. E eu sempre disse que mais tarde ou mais cedo queria ir para Inglaterra. Surgiu esta oportunidade, num país onde o futebol é uma religião... É muito dificil para os jogadores adaptarem-se ao futebol inglês. Graças a Deus, estou a conseguir, treinando muito todos os dias, com vista ao meu maior objectivo, que é jogar na Primeira Liga inglesa. Mas nunca dizer adeus ao futebol português.

JP - Após o Campeonato da Europa de Sub-19, Marcos Lopes afirmou que só emigrando os jovens portugueses poderão ter oportunidades a nível sénior. Concorda com a sua afirmação? Considera também que em Portugal não há uma aposta real na formação, apesar de todos os milhões gastos em academias (falando evidentemente nos clubes grandes, com destaque para o Benfica)?

RF - É a realidade. Infelizmente somos mais valorizados cá fora. Para mim, Portugal está muito melhor agora. As pessoas não têm a noção de como os fãs de clubes ingleses olham para os jogadores portugueses. Eles adoram-nos. Digo-o pelo meu clube, onde somos dois portugueses [Rafael Floro e José Semedo], e pelo que ouvi falar aqui em Inglaterra.

JP - Que diferenças, relativamente ao futebol português, encontrou em Inglaterra?

RF - Eu não cheguei a jogar muito futebol sénior em Portugal. Apenas no FC Porto B e quando jogávamos, ainda juniores, contra equipas seniores. Aqui em Inglaterra, o futebol é mais físico. Tens de estar bem preparado, existe muito contacto físico e o jogo é mais rápido, graças também aos árbitros, que deixam jogar, não param tanto o jogo. É um futebol mais direto e mais atrativo. Em Portugal, o futebol é mais pausado, mas ao mesmo tempo também pressionam mais e fazem com que os jogadores tenham mais qualidade técnica.

JP - Na sua primeira temporada no Sheffield Wednesday apenas disputou um encontro no campeonato. A que motivo(s) se deve esse facto? Esperava contar com mais minutos de jogo?

RF - Aqui em inglaterra, eles têm a sua maneira de jogar. Eu, quando cheguei, não estava habituado a um futebol físico como este. Tudo é diferente. Mesmo jogar para 25 000 adeptos e tudo mais... Eles, por exemplo, diziam para jogar com passe longo e mais direto e eu jogava sempre de forma curta, como fazia no FC Porto. E como também ainda sou novo aqui em Inglaterra... Eles valorizam muito, mas muito mesmo a experiência. Fiz um jogo para o campeonato contra a equipa mais dificil que subiu no ano passado, e que este ano está na Premier League e depois joguei nos sub-21 [do Sheffield Wednesday]. Para mim, o mais importante é jogar e ter minutos nas pernas. E agora esperar que este ano tenha mais oportunidades... [A última temporada] foi um ano de adaptação, este ano já estou adaptado ao futebol Inglês. Agora é esperar pela minha oportunidade e ver o que acontece.

JP - Ainda assim, foi convocado para o Torneio de Toulon. Contava ser titular em todos os jogos de um torneio de seleções tão prestigiado?

RF - Sim, eu acredito sempre. Por isso é que estou onde estou. A qualidade, eu tenho, a forma fisica também. Quando ia à seleção treinava bem e correspondia ao que o mister queria de mim. Só não tenho jogado na primeira equipa do Sheffield... Penso que estou ao nivel necessário para poder jogar e que só falta a oportunidade. Os meus colegas de seleção jogaram comigo desde sempre, por isso não vejo possibilidade de não acreditar.

JP - Inúmeros craques do futebol mundial disputaram essa prova no início do seu percurso. A título de exemplo, há que salientar atletas como Javier Mascherano, Thierry Henry ou Rui Costa, todos vencedores da Bola de Ouro da competição. Que jogadores mais o impressionaram na edição deste ano?

RF - É um torneio de grande qualidade. Infelizmente, perdemos com França, que seria o jogo que nos daria a oportunidade de jogar a final. Mas saímos de cabeça erguida pelo excelente torneio que fizemos com uma equipa de sub-20 num torneio sub-21. É complicado fazer essa escolha. São todos muito bons jogadores, cada um na sua posição. Mas foi um momento fantástico, poder jogar em Toulon.

JP - Está nos seus planos regressar ao futebol português? Podemos esperar vê-lo nas próximas épocas a representar uma equipa do nosso campeonato?

RF - Não sei. Por enquanto, tenho este ano contrato com o Sheffield. Gostaria de poder continuar em Inglaterra. Mas mais tarde voltar a Portugal... Quem sabe? Por enquanto, tenho a cabeça no presente. Pensar em treinar muito e bem, para me tornar melhor jogador.

JP - Como imagina a sua carreira daqui a dez anos?

RF - [Risos] Essa é uma questão em que não penso muito. Deus queira que esteja em grandes palcos. Que seja o que Deus quiser. Só espero poder ter saúde, para poder fazer o que mais amo, que é jogar futebol.

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