Atualmente júnior de segundo ano, Miguel Pinto é uma das maiores esperanças da formação do FC Twente. Representou o Real Massamá durante grande parte da sua curta carreira e, como iniciado, evoluiu no Caixa Futebol, ao serviço do SL Benfica. No Verão de 2013, sem que nada o fizesse prever, embarcou na aventura e mudou-se de malas e bagagens para a Holanda. Conheça o jovem atacante.
Chegou ao Real Massamá como infantil e aí fez grande parte da sua
formação. Qual o segredo por detrás do sucesso do clube? Como é
que, com menos recursos, consegue ser tão competitivo e lançar
tantos jogadores talentosos?
Eu
acho que o segredo do clube está em dois ou três pontos. Primeiro,
a zona da Linha de Sintra tem muitos jovens que querem jogar futebol
e que jogam todos os dias na rua. É lá que aprendes as bases para
depois começares num clube. Segundo, os treinadores são sempre
competitivos e incentivam-nos a sermos sempre melhores e a jogar de
igual para igual contra equipas como Benfica, Sporting... E,
terceiro, as instalações do clube são muito boas!
Antes
de rumar à Holanda, apenas numa temporada não representou o
Real SC. Como iniciado de segundo ano, pôde experienciar o
dia-a-dia da formação de um grande, neste caso, o Benfica. O que é
que correu mal? Por que motivo regressou a Massamá?
No
Benfica até foi meio ano. Não vejo esse meio ano como um
retrocesso. Aprendi bastante, especialmente a nível mental. Todas as
semanas tinha de lutar por um lugar, coisa que no Real, apesar de
termos sempre grandes equipas, não acontecia. Não precisava de me
esforçar muito nos treinos, pois jogava sempre. Fiquei mais forte
fisicamente e também em termos de intensidade de jogo. O que correu
mal? Eu ainda tinha quinze anos e não levava o futebol tão a serio
como agora. Em conjunto com os meus pais, e acordando com o Benfica,
decidi sair, pois era o melhor para mim. Saía todos os dias de casa
às 14h e chegava às 23. Às 7:30h tinha de acordar para ir para a
escola... Não tinha tempo para fazer trabalhos nem estudar e isso
refletiu-se nas notas durante o tempo em que estive a jogar pelo
Benfica. Mas ainda assim tenho boas recordaçoes de quando lá
joguei. Jogar por um dos maiores clubes em Portugal é outra coisa e
outra sensação. Mas eu sabia que se me aplicasse e continuasse a
fazer o meu trabalho iria ter outra oportunidade mais tarde!
E
a verdade é que, para surpresa do grande público, saltou diretamente dos juvenis do Real para o FC Twente. Como surgiu a
oportunidade?
Durante
o meu último ano em Portugal, fiz uma boa época e isso suscitou o
interesse de clubes portugueses, de empresários... Jogava aqui no
Real, não tinha grande projeção, mas depois dessa época a minha
cotação subiu um pouco mais. Optei por assinar, ainda no início da
época, por uma empresa chamada OML SPORTS & MARKETING, de Bruno
Meirelles, porque foi a pessoa que mais confiança me deu, e a partir
daí muitas equipas e olheiros estrangeiros vieram observar-me em
muitos jogos. Muitos vídeos meus foram enviados. No fim desse
processo todo, o FC Twente convidou-me para ir treinar duas semanas
no seu centro de treinos, para fazerem a avaliação final.
De
que forma correu a adaptação à vida num novo país, longe da
família e dos amigos? Sente que já está completamente
ambientado?
Sim,
esse é o problema principal. Se a tua cabeça não anda bem, o teu
corpo não consegue executar na perfeição, e no início foi muito
difícil. Tinha dezassete anos e deixei para trás uma família muito
unida, e que sempre me ajudou, e amigos que me acompanham desde os
seis, sete, oito anos. Essa grande união com família e amigos foi
um entrave, pois se não tivesse grandes relações aqui em Portugal
era bem mais fácil começar uma nova vida na Holanda. Ainda me
lembro de depois da primeira semana ligar para a minha mãe a chorar
e a dizer que me queria ir embora. É um episódio a que agora acho
graça, mas na altura foi muito duro! O segredo é a comunicação
diária com família e amigos. Eu penso assim: a minha família e os
meus amigos vão estar sempre aqui em Portugal para mim. Eles não se
vão embora, portanto estou calmo em relação a isso. Já estou
completamente ambientado. Falo a língua com muito à-vontade, já
fiz amigos, e os colegas de equipa, também amigos, receberam-me bem.
Mas não foi um processo imediato. As coisas vão com o tempo. É
assim que quase sempre acontece.
Quão
competitivo é o futebol de formação nos Países Baixos? Quais as
principais diferenças que encontrou?
Eu
acho o campeonato de juniores da Holanda bem mais competitivo do que
em Portugal. Todos os jogos são difíceis, pois são as catorze
melhores equipas da Holanda a defrontarem-se todos os fim de semana.
Agora em Portugal, acredito que só na última fase se apanha as
melhores equipas do país. A primeira fase não é tão exigente. O
futebol na Holanda é mais físico e intenso. Tens de jogar com menos
toques na bola e os adversários são todos os fins de semana fortes
e competitivos.
Quando
assinou por três temporadas, teve algum tipo de garantia de que
seria aposta na primeira equipa?
Quando
assinei identifiquei muitas vantagens. Primeiro, a escola holandesa,
uma das melhores do mundo a nível de treino e exigência. Segundo,
as oportunidades que são dadas e a passagem para a equipa principal.
Quando assinei, houve um acordo com muitos responsáveis do FC Twente
e inclusive com o treinador da equipa principal, que ainda exerce a função.
Sinto que oportunidades não vão faltar e as coisas estão a correr
nesse sentido. Se aperfeiçoar os meus pontos fracos, penso que é um
cenário provável de acontecer.
Treina regularmente ou já treinou com o plantel principal do clube?
Recebeu conselhos ou algum tipo de 'feedback'?
Sim,
já treinei algumas vezes com a equipa A. No final, o treinador
deu-me sempre alguns conselhos. É gratificante perceber que as
pessoas se preocupam com a tua evolução. Quando vou treinar com o
plantel principal, sou sempre muito bem recebido pelos treinadores e
pelos jogadores. Quanto aos conselhos, há que aceitar e
interiorizar.
Quanto
tempo pensa que demorará até ser titular?
Não
sei se posso responder agora a essa pergunta, pois primeiro ainda
tenho de me afirmar na primeira equipa, e depois, sim, pensar nisso.
Mas sim, espero chegar à equipa principal o mais rápido possível e
é esse o meu objetivo.
Planeia regressar a Portugal ao longo do seu trajeto?
Não
sei. Os jogadores gostam sempre de jogar em casa e eu não sou
exceção, mas claro, só se houver interesse e se a proposta for boa
para mim e para o clube. Nunca fecharei as portas ao meu país e à
minha casa. O que é certo é que a Holanda, para já, é o sítio
certo para evoluir.
Como
imagina a sua carreira daqui a dez anos?
O
meu grande sonho é jogar regularmente na Liga dos Campeões, e é
para isso que trabalho. Daqui a dez anos, vejo-me a jogar numa liga
europeia e também nas competições europeias.