sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Entrevista a Miguel Pinto (FC Twente)

Atualmente júnior de segundo ano, Miguel Pinto é uma das maiores esperanças da formação do FC Twente. Representou o Real Massamá durante grande parte da sua curta carreira e, como iniciado, evoluiu no Caixa Futebol, ao serviço do SL Benfica. No Verão de 2013, sem que nada o fizesse prever, embarcou na aventura e mudou-se de malas e bagagens para a Holanda. Conheça o jovem atacante.




Chegou ao Real Massamá como infantil e aí fez grande parte da sua formação. Qual o segredo por detrás do sucesso do clube? Como é que, com menos recursos, consegue ser tão competitivo e lançar tantos jogadores talentosos?

Eu acho que o segredo do clube está em dois ou três pontos. Primeiro, a zona da Linha de Sintra tem muitos jovens que querem jogar futebol e que jogam todos os dias na rua. É lá que aprendes as bases para depois começares num clube. Segundo, os treinadores são sempre competitivos e incentivam-nos a sermos sempre melhores e a jogar de igual para igual contra equipas como Benfica, Sporting... E, terceiro, as instalações do clube são muito boas!

Antes de rumar à Holanda, apenas numa temporada não representou o Real SC. Como iniciado de segundo ano, pôde experienciar o dia-a-dia da formação de um grande, neste caso, o Benfica. O que é que correu mal? Por que motivo regressou a Massamá?

No Benfica até foi meio ano. Não vejo esse meio ano como um retrocesso. Aprendi bastante, especialmente a nível mental. Todas as semanas tinha de lutar por um lugar, coisa que no Real, apesar de termos sempre grandes equipas, não acontecia. Não precisava de me esforçar muito nos treinos, pois jogava sempre. Fiquei mais forte fisicamente e também em termos de intensidade de jogo. O que correu mal? Eu ainda tinha quinze anos e não levava o futebol tão a serio como agora. Em conjunto com os meus pais, e acordando com o Benfica, decidi sair, pois era o melhor para mim. Saía todos os dias de casa às 14h e chegava às 23. Às 7:30h tinha de acordar para ir para a escola... Não tinha tempo para fazer trabalhos nem estudar e isso refletiu-se nas notas durante o tempo em que estive a jogar pelo Benfica. Mas ainda assim tenho boas recordaçoes de quando lá joguei. Jogar por um dos maiores clubes em Portugal é outra coisa e outra sensação. Mas eu sabia que se me aplicasse e continuasse a fazer o meu trabalho iria ter outra oportunidade mais tarde!

E a verdade é que, para surpresa do grande público, saltou diretamente dos juvenis do Real para o FC Twente. Como surgiu a oportunidade?

Durante o meu último ano em Portugal, fiz uma boa época e isso suscitou o interesse de clubes portugueses, de empresários... Jogava aqui no Real, não tinha grande projeção, mas depois dessa época a minha cotação subiu um pouco mais. Optei por assinar, ainda no início da época, por uma empresa chamada OML SPORTS & MARKETING, de Bruno Meirelles, porque foi a pessoa que mais confiança me deu, e a partir daí muitas equipas e olheiros estrangeiros vieram observar-me em muitos jogos. Muitos vídeos meus foram enviados. No fim desse processo todo, o FC Twente convidou-me para ir treinar duas semanas no seu centro de treinos, para fazerem a avaliação final.

De que forma correu a adaptação à vida num novo país, longe da família e dos amigos? Sente que já está completamente ambientado?

Sim, esse é o problema principal. Se a tua cabeça não anda bem, o teu corpo não consegue executar na perfeição, e no início foi muito difícil. Tinha dezassete anos e deixei para trás uma família muito unida, e que sempre me ajudou, e amigos que me acompanham desde os seis, sete, oito anos. Essa grande união com família e amigos foi um entrave, pois se não tivesse grandes relações aqui em Portugal era bem mais fácil começar uma nova vida na Holanda. Ainda me lembro de depois da primeira semana ligar para a minha mãe a chorar e a dizer que me queria ir embora. É um episódio a que agora acho graça, mas na altura foi muito duro! O segredo é a comunicação diária com família e amigos. Eu penso assim: a minha família e os meus amigos vão estar sempre aqui em Portugal para mim. Eles não se vão embora, portanto estou calmo em relação a isso. Já estou completamente ambientado. Falo a língua com muito à-vontade, já fiz amigos, e os colegas de equipa, também amigos, receberam-me bem. Mas não foi um processo imediato. As coisas vão com o tempo. É assim que quase sempre acontece.

Quão competitivo é o futebol de formação nos Países Baixos? Quais as principais diferenças que encontrou?

Eu acho o campeonato de juniores da Holanda bem mais competitivo do que em Portugal. Todos os jogos são difíceis, pois são as catorze melhores equipas da Holanda a defrontarem-se todos os fim de semana. Agora em Portugal, acredito que só na última fase se apanha as melhores equipas do país. A primeira fase não é tão exigente. O futebol na Holanda é mais físico e intenso. Tens de jogar com menos toques na bola e os adversários são todos os fins de semana fortes e competitivos.

Quando assinou por três temporadas, teve algum tipo de garantia de que seria aposta na primeira equipa?

Quando assinei identifiquei muitas vantagens. Primeiro, a escola holandesa, uma das melhores do mundo a nível de treino e exigência. Segundo, as oportunidades que são dadas e a passagem para a equipa principal. Quando assinei, houve um acordo com muitos responsáveis do FC Twente e inclusive com o treinador da equipa principal, que ainda exerce a função. Sinto que oportunidades não vão faltar e as coisas estão a correr nesse sentido. Se aperfeiçoar os meus pontos fracos, penso que é um cenário provável de acontecer.

Treina regularmente ou já treinou com o plantel principal do clube? Recebeu conselhos ou algum tipo de 'feedback'?

Sim, já treinei algumas vezes com a equipa A. No final, o treinador deu-me sempre alguns conselhos. É gratificante perceber que as pessoas se preocupam com a tua evolução. Quando vou treinar com o plantel principal, sou sempre muito bem recebido pelos treinadores e pelos jogadores. Quanto aos conselhos, há que aceitar e interiorizar.

Quanto tempo pensa que demorará até ser titular?

Não sei se posso responder agora a essa pergunta, pois primeiro ainda tenho de me afirmar na primeira equipa, e depois, sim, pensar nisso. Mas sim, espero chegar à equipa principal o mais rápido possível e é esse o meu objetivo.

Planeia regressar a Portugal ao longo do seu trajeto?

Não sei. Os jogadores gostam sempre de jogar em casa e eu não sou exceção, mas claro, só se houver interesse e se a proposta for boa para mim e para o clube. Nunca fecharei as portas ao meu país e à minha casa. O que é certo é que a Holanda, para já, é o sítio certo para evoluir.

Como imagina a sua carreira daqui a dez anos?


O meu grande sonho é jogar regularmente na Liga dos Campeões, e é para isso que trabalho. Daqui a dez anos, vejo-me a jogar numa liga europeia e também nas competições europeias.

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