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"Representando
o clube pela décima temporada consecutiva, o médio-centro natural
da Amora, concelho do Seixal, foi sem dúvida a grande surpresa na
pré-temporada da equipa principal do Benfica. Chamado a integrar os
trabalhos do conjunto orientado por Jorge Jesus, Teixeira, que
habitualmente nem era titular na formação secundária, aproveitou
da melhor maneira as ausências que se fizeram sentir e começou de
início a maioria dos encontros realizados nas últimas semanas.
Descoberto
no Amora FC, clube onde curiosamente o atual técnico principal das
águias iniciou a sua carreira de treinador, o centrocampista
mudou-se para os quadros dos encarnados com apenas onze anos. Não
podendo inicialmente atuar no Caixa Futebol Campus devido ao facto de
o complexo não albergar as equipas de formação abaixo do escalão
de iniciados, João Teixeira deu os primeiros passos de águia ao
peito no campo dos Pupilos do Exército, situado a menos de mil
metros do Estádio da Luz.
Duas
épocas volvidas, e tendo mantido o seu lugar nas camadas jovens do
campeão nacional, o atleta que atualmente contabiliza vinte
primaveras passou a evoluir bem perto de casa, na Academia do Seixal.
Integrado numa das melhores gerações dos últimos anos, que conta
com nomes como Bruno Varela, João Cancelo, Bernardo Silva ou Hélder
Costa, ajudou a dar início a uma longa sequência de êxitos.
Logo
em 2009, na sua estreia num campeonato nacional, sagrou-se campeão
de iniciados, título ao qual se seguiu o de juvenis, dois anos
depois. Numa fase final que para além dos três grandes contou ainda
com o Padroense (equipa-satélite do FC Porto em sub-16), João foi
peça chave para o então treinador Bruno Lage, tendo dado um
contributo decisivo para a vantagem de seis pontos sobre o segundo
classificado.
Finalmente,
e terminando com chave de ouro, ajudou a interromper um jejum de nove
anos, com a vitória, em 2013, no emocionante campeonato nacional de
juniores, que, recorde-se, apenas ficou resolvido na derradeira
jornada, na qual o Benfica bateu o Rio Ave por 1-2, com os dois
tentos a serem apontados pelo lateral João Cancelo.
Pouco
depois promovido à equipa B, necessitou de alguns meses de adaptação
à nova realidade competitiva, algo que é facilmente verificável
com uma simples análise aos seus números. Até dezembro, constou do
"onze" inicial em somente duas ocasiões, situação que
foi no entanto corrigida. De forma gradual, conseguiu afirmar-se e
terminou a Liga de Honra encarregue de uma função imprescindível
para o bom funcionamento do meio-campo encarnado.
Foi
por isso surpreendente observar a forma como João Teixeira se impôs
na pré-temporada da equipa principal. É certo que com os regressos
de Enzo Pérez e Rúben Amorim, a sua margem de manobra diminuiu
drasticamente, mas é também provável que Jesus torne a apostar no
jovem, desta vez em jogos a "doer". Depois das promoções
de André Gomes e André Almeida no primeiro ano de equipa B, e de
Ivan Cavaleiro no segundo, Teixeira é neste momento o jogador em
melhor posição para dar o tão ambicionado "salto", algo
que certamente alegraria a nação benfiquista.
Contando
com interessante visão de jogo e qualidade técnica assinalável, o
médio destaca-se sobretudo pela sua competência no capítulo do
passe e pelo número de vezes em que aparece com perigo nas zonas de
finalização. Forte em combinações, evidencia também boa leitura
de jogo e apetência para desarmar o adversário.
Pela
negativa, há dois aspetos a salientar: João Teixeira apresenta uma
evidente falta de poder de choque (podendo esta, à semelhança do
que sucedeu por exemplo com Ivan Cavaleiro, vir a ser desenvolvida
pelos especialistas do Benfica Lab) e por vezes denota pouca
intensidade competitiva, demonstrada pela forma como perde a posse do
esférico por demorar demasiado tempo a soltá-lo."