Nos últimos dias, tem sido tema de destaque na imprensa desportiva nacional a prestação da equipa de juniores do Sport Lisboa e Benfica. Apesar de estarmos já na reta final da temporada, as águias só adquiriram fama após a vitória frente ao Manchester City, que garantiu viagem para Nyon, na Suiça, onde se disputariam as meias-finais e a final da primeira edição oficial da Liga dos Campeões do escalão.
Partindo para a competição como uma incógnita, tal como a maioria dos clubes presentes, os encarnados venceram um grupo extremamente difícil, que contava com duas das mais prestigiadas academias de formação da Europa, Anderlecht e PSG, e ainda com o Olympiakos, campeão grego no escalão de seniores. Numa etapa que terminou com um excelente registo de quatro vitórias e dois empates, o médio ofensivo Rochinha, com vários golos e algumas assistências, demonstrou o seu enorme potencial e atraiu o interesse de vários colossos europeus.
Já na fase a eliminar, os pupilos de João Tralhão receberam e venceram o Áustria de Viena, por 4-1. Mas, apesar do que havia sido feito em encontros anteriores, o verdadeiro teste à equipa lisboeta estava reservado para os quartos de final da competição, que colocaram frente a frente o campeão nacional e o poderoso Manchester City de Marcos Lopes. Num ambiente extremamente adverso, as águias deram, já perto do fim, a volta a uma partida que perdiam desde os primeiros minutos, com os jogadores a revelarem uma tremenda capacidade de sacrifício e uma enorme crença nas suas capacidades.
Vencidos os "citizens", seguia-se o Real Madrid. De forma surpreendente, o Benfica decidiu o desafio no primeiro quarto de hora, acabando por bater os espanhóis por umas esclarecedoras quatro bolas a zero. Três dias depois, na grande final, a equipa sucumbiu à pressão. Embora tenha sido superior na maioria dos momentos do jogo, não teve sucesso na hora da finalização e deu espaço aos fantásticos Adama Traoré e Munir El Haddadi, que apenas cumpriram com a sua tarefa. Para a posteridade, fica a excelente imagem deixada pelo conjunto "made in" Seixal.
Disposto num sistema tático em tudo semelhante ao utilizado por Jorge Jesus, o atual primeiro classificado no Campeonato Nacional de Juniores destaca-se pela elevada qualidade e competência em todos os setores do campo. À frente do guardião cabo-verdiano Thierry Graça, fulcral na vitória em Inglaterra, encontra-se um quarteto concentrado e forte em termos posicionais, que, para além da voz de comando do capitão João Nunes, conta ainda com um dos principais trunfos da equipa: as constantes subidas no terreno dos laterais Pedro Rebocho e Rafael Ramos.
Na zona intermediária, fica demonstrada, semana após semana, a qualidade com que a bola sai de zonas de pressão e a capacidade individual de cada um dos elementos. Enquanto que Estrela arruma a casa e Raphael Guzzo se encarrega das transições, Diogo Rocha, ou Rochinha, como é conhecido, faz com classe a difícil conexão entre o meio-campo e o ataque.
O tridente ofensivo, composto habitualmente por Nuno Santos, Gonçalo Guedes e Romário Baldé, mas no qual surge também com regularidade Hildeberto Pereira, é talhado para os desequilíbrios. A enorme velocidade revelada e as inúmeras desmarcações nas costas da defesa foram um autêntico quebra-cabeças para todos os clubes com que os encarnados se depararam.
Com todas estas demonstrações de qualidade e ainda a temporada da equipa B, torna-se evidente que o Benfica tem de mudar de estratégia. Em vez de ir contratar ao estrangeiro, as águias podem e devem apostar na prata da casa.
Na próxima temporada, há, pelo menos, oito nomes da atual equipa de juniores com lugar praticamente garantido na formação secundária do clube da Luz: Thierry Graça, Rafael Ramos, João Nunes, Pedro Rebocho, Estrela, Raphael Guzzo, Rochinha e Nuno Santos; todos atletas de segundo ano.
Para que não haja estagnação na evolução destas promessas, é crucial que jogadores como Ivan Cavaleiro, João Cancelo e Bernardo Silva sejam definitivamente promovidos ao plantel principal. É igualmente importante que outros mais experientes como Rúben Pinto, Funes Mori ou Lolo Plá rumem a equipas de Primeira Liga, onde possam continuar a progredir. Só desta maneira haverá espaço para o imenso talento dos vice-campeões europeus.
Mesmo não sabendo o que decidirão os dirigentes, uma coisa é certa: há potencial para que, tal como Luís Filipe Vieira tanto ambiciona, o Benfica se torne na base da Seleção Nacional.