Jogou com Gareth Bale, Walcott e Lallana, treinou com Riquelme, Santi Cazorla e Robert Pirès. Aos 28 anos, Feliciano Condesso representa o União de Montemor, do CNS, e há muito que anda longe dos holofotes que sobre ele incidiram aquando das passagens por Southampton e Villarreal. A convite do Jovens Promessas, aceitou falar um pouco sobre o seu percurso e aquilo que não correu conforme esperado.
Começando
pelo tema principal desta entrevista, o que correu mal na sua carreira? Por que
motivos o seu potencial não se confirmou?
As lesões em mau timing... Desde que voltei para Portugal, para tentar começar uma
carreira aqui, tive duas lesões de longa duração que impossibilitaram o meu
progresso.
Por muita
notoriedade que tenham hoje os jovens talentosos, a transição para o futebol
profissional é tão ou mais difícil do que era há dez anos. Que conselhos daria
aos que se vão tentando afirmar como seniores?
São épocas diferentes, mas talvez seja algo mais fácil
hoje do que era há dez anos atrás. O conselho que daria aos jovens de hoje é
que acreditem nas suas capacidades, tenham sempre confiança e trabalhem muito.
Serão mais facilmente recompensados dessa forma. Muitas vezes, o querer ganha à
qualidade.
Ainda
bastante jovem, deu que falar com a transferência do Vitória de Setúbal para o
Southampton. Tem alguma ideia de como os ingleses o descobriram? De que modo se
desenrolou o processo que culminou com a assinatura do contrato?
Eu era juvenil de segundo ano e estávamos na pré-época
quando tudo se sucedeu. Se a memória não me engana, estavam em Portugal para
ver jovens e gostaram de mim. Abordaram a minha família e o meu clube e depois
concretizou-se. Era o sonho de qualquer jovem.
A academia
dos Saints é mundialmente famosa pela
qualidade dos jogadores que tem lançado. O que a distingue das outras? Com que
ideia ficou dos métodos de trabalho?
A academia dos Saints
foi e continua a ser uma das melhores. A seriedade no trabalho e a crença na
qualidade dos jovens, mesmo que esta não seja óbvia à primeira vista... Não
desistem de "polir" ou extrair o máximo possível da qualidade de um
jogador, com resultados evidentes.
Ao serviço do
clube britânico, jogou lado a lado com atletas do calibre de Theo Walcott,
Gareth Bale ou Adam Lallana. Manteve o contacto com algum deles, ou com outros
atletas da equipa que chegou à final da FA Youth Cup 2004/05?
Hoje já não existe contacto. Com esses jogadores
manteve-se durante algum tempo após a minha saída de Inglaterra. Tenho algum
contacto com outros jogadores dessa equipa, como Tim Sparv, internacional finlandês,
Leon Best ou Nathan Dyer.
Na altura,
esses três jogadores já eram muito acima da média? Ao observar toda a equipa em
treinos e jogos, identificava Walcott, Bale e Lallana como sendo de uma
qualidade superior?
Quando cheguei, sem dúvida que Walcott era o que
mais dava nas vistas, pois já era muito falado pelo país todo. Depois, com o
passar do tempo, comecei a ver qualidade em Adam Lallana, que tinha uma
qualidade acima da média para a sua idade e jogava perfeitamente com os dois
pés. Gareth Bale começou a despontar mais para o final.
Depois da
experiência no sul de Inglaterra, rumou ao Villarreal. Que memórias guarda da
sua passagem pelo clube espanhol?
Guardo boas memórias. Foram três anos bons.
Conseguimos ascender a equipa da 3ª até à 2ª liga, passando pela 2ªB. Era um futebol
totalmente diferente, onde aprendi muito.
Durante a sua
ligação ao "submarino amarelo", representou Portugal no Mundial
Sub-20 de 2007. Qual foi o futebolista mais talentoso que defrontou na prova,
ou aquele que mais o marcou?
Naquele mundial, se a memória não me falha, jogámos
o primeiro jogo contra o México, onde estavam Carlos Vela e Giovanni dos Santos,
jogadores já conhecidos na altura e de grande qualidade. No jogo em que fomos
eliminados, contra o Chile, estavam Arturo Vidal e Alexis Sánchez, não
conhecidos internacionalmente como hoje, mas já com qualidade.
Terminado o
contrato com o Villarreal, colecionou experiências em escalões secundários
portugueses e espanhóis, jogando hoje no União de Montemor. Durante estes anos,
recebeu em algum momento convites para reforçar clubes da Primeira Liga nacional?
Não, nunca recebi convites diretos para equipas da
Primeira Liga. Há três anos atrás, existiu algo que poderia ter sido
encaminhado nesse sentido, mas depois tive uma lesão que acabou com qualquer
hipótese.
Realiza
atualmente alguma outra atividade para além do futebol, ou consegue viver do
que aufere na modalidade? O que pensa fazer quando pendurar as botas?
Sim, consigo conciliar um trabalho com o futebol. Hoje
em dia, e mais nestas divisões, é impossível viver-se do futebol. Diria que 80%
dos jogadores da Primeira Liga, ao terminarem a sua vida profissional, não
conseguem viver do que ganharam no futebol, devido ao que se recebe hoje em
dia. Arrumando as botas, quero fazer seja o que for que me permita ter uma vida
estável. Se possível, algo ligado ao futebol ou ao desporto.
A dois toques
Melhores
jogadores com quem partilhou balneário: Gareth
Bale, Juan Román Riquelme, Santi Cazorla e Robert Pirès
Futebolista
favorito: Zinedine Zidane
Equipas que
mais prazer lhe dá ver jogar: Barcelona e Bayern
Munique