domingo, 17 de agosto de 2014

O ninho da Águia: João Teixeira

Publicado na AABE:


"Representando o clube pela décima temporada consecutiva, o médio-centro natural da Amora, concelho do Seixal, foi sem dúvida a grande surpresa na pré-temporada da equipa principal do Benfica. Chamado a integrar os trabalhos do conjunto orientado por Jorge Jesus, Teixeira, que habitualmente nem era titular na formação secundária, aproveitou da melhor maneira as ausências que se fizeram sentir e começou de início a maioria dos encontros realizados nas últimas semanas.

Descoberto no Amora FC, clube onde curiosamente o atual técnico principal das águias iniciou a sua carreira de treinador, o centrocampista mudou-se para os quadros dos encarnados com apenas onze anos. Não podendo inicialmente atuar no Caixa Futebol Campus devido ao facto de o complexo não albergar as equipas de formação abaixo do escalão de iniciados, João Teixeira deu os primeiros passos de águia ao peito no campo dos Pupilos do Exército, situado a menos de mil metros do Estádio da Luz.

Duas épocas volvidas, e tendo mantido o seu lugar nas camadas jovens do campeão nacional, o atleta que atualmente contabiliza vinte primaveras passou a evoluir bem perto de casa, na Academia do Seixal. Integrado numa das melhores gerações dos últimos anos, que conta com nomes como Bruno Varela, João Cancelo, Bernardo Silva ou Hélder Costa, ajudou a dar início a uma longa sequência de êxitos.

Logo em 2009, na sua estreia num campeonato nacional, sagrou-se campeão de iniciados, título ao qual se seguiu o de juvenis, dois anos depois. Numa fase final que para além dos três grandes contou ainda com o Padroense (equipa-satélite do FC Porto em sub-16), João foi peça chave para o então treinador Bruno Lage, tendo dado um contributo decisivo para a vantagem de seis pontos sobre o segundo classificado.

Finalmente, e terminando com chave de ouro, ajudou a interromper um jejum de nove anos, com a vitória, em 2013, no emocionante campeonato nacional de juniores, que, recorde-se, apenas ficou resolvido na derradeira jornada, na qual o Benfica bateu o Rio Ave por 1-2, com os dois tentos a serem apontados pelo lateral João Cancelo.

Pouco depois promovido à equipa B, necessitou de alguns meses de adaptação à nova realidade competitiva, algo que é facilmente verificável com uma simples análise aos seus números. Até dezembro, constou do "onze" inicial em somente duas ocasiões, situação que foi no entanto corrigida. De forma gradual, conseguiu afirmar-se e terminou a Liga de Honra encarregue de uma função imprescindível para o bom funcionamento do meio-campo encarnado.

Foi por isso surpreendente observar a forma como João Teixeira se impôs na pré-temporada da equipa principal. É certo que com os regressos de Enzo Pérez e Rúben Amorim, a sua margem de manobra diminuiu drasticamente, mas é também provável que Jesus torne a apostar no jovem, desta vez em jogos a "doer". Depois das promoções de André Gomes e André Almeida no primeiro ano de equipa B, e de Ivan Cavaleiro no segundo, Teixeira é neste momento o jogador em melhor posição para dar o tão ambicionado "salto", algo que certamente alegraria a nação benfiquista.

Contando com interessante visão de jogo e qualidade técnica assinalável, o médio destaca-se sobretudo pela sua competência no capítulo do passe e pelo número de vezes em que aparece com perigo nas zonas de finalização. Forte em combinações, evidencia também boa leitura de jogo e apetência para desarmar o adversário.

Pela negativa, há dois aspetos a salientar: João Teixeira apresenta uma evidente falta de poder de choque (podendo esta, à semelhança do que sucedeu por exemplo com Ivan Cavaleiro, vir a ser desenvolvida pelos especialistas do Benfica Lab) e por vezes denota pouca intensidade competitiva, demonstrada pela forma como perde a posse do esférico por demorar demasiado tempo a soltá-lo."


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